Corpo como morada, não como vitrine: o adoecimento pelas redes sociais
- Paola Brigo
- há 2 dias
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Atualizado: há 20 horas

Você sente que todo mundo em redes sociais como Instagram ou TikTok parece igual? Já que todas seguem um padrão da magreza constantemente imposto às mulheres, porém de maneiras diferentes aos longos dos últimos anos. Primeiro através do cinema e revistas, depois pela televisão e agora através das redes sociais, sendo ainda intenso.
Visto que as redes sociais normalizam silenciosamente esse conteúdo entregue a nós, elas têm se transformado em uma extensão das nossas vidas no mundo virtual. Porém, mostram apenas parte da realidade ou aquilo que desejam que vejamos. Como a promoção dos ideais de beleza, neste caso, a magreza extrema.
Além disso, há a normalização da performance rápida, promovida com o avanço das tecnologias na área da estética, que continua sendo perpetuada nas redes sociais como lipo lad e, agora, as “canetas emagrecedoras”. Temos também outras performances rápidas que dependem do contexto que a/o “influencer” vive como, trabalha com academias, tem patrocínio com suplementação etc.
Contudo, o culto à magreza nos afeta integralmente, como nossa saúde mental e relações. Relações como a nossa com a comida. Quem não tem um prato favorito que é feito por alguém que amamos? Com a influência do mito da magreza, acabamos por evitar, temer ou nos culpar ao atender essa necessidade básica e fisiológica, o comer.
A socialização também é afetada. Por exemplo, recusar sair com amigos e familiares, recear o julgamento pelo corpo que possuímos ou pelo que comemos, além de ter sensação de não pertencimento por um corpo fora do padrão.

A magreza inalcançável nos afeta comumente na relação com nós mesmas e como percebemos nosso corpo. Quem já sentiu insegurança e uma autocobrança por não ter o corpo magro que é mostrado para nós diariamente nas redes sociais. Quem nunca sentiu vergonha ao se vestir ou de comprar roupas? Acabamos com percepções distorcidas do nosso corpo, além de nos compararmos constantemente a outras mulheres.
Assim, nos distanciamos de uma relação com o corpo que nos permite vivenciar muitas experiências. Como sentir o calor do sol, sabor de uma comida gostosa, caminhar ao ar livre, abraçar uma pessoa querida.
Pensar o quão difícil é renunciar a esses sentimentos e ações que nos atravessam pela pressão do culto à magreza. A dificuldade de ir contra a norma nos é apresentada diariamente. Afinal tempo todo somos bombardeadas nas redes sociais sobre corpos irreais. Também há a dificuldade de entender que não é apenas sobre querer ter um corpo magro, mas sobre uma pressão estética estrutural da nossa cultura que atravessa os corpos femininos desde pequenas.
Ainda há o medo de exclusão e solidão por pensar contra a norma. E principalmente, ir contra a uma indústria que lucra com a insegurança de nós, mulheres.
Existem os riscos de viver fixada na busca desse corpo ideal e magro, não oferecendo a possibilidade de mudança de significado sobre a beleza de corpos reais. Dado que ter um corpo irreal fomenta deixar outras necessidades importantes e nossa subjetividade de lado.
Além disso, também gera a presença dos sentimentos e emoções ditos anteriormente e outros como ansiedade e depressão. Logo, um adoecimento da pessoa como um todo.
E quem nunca se sentiu perdida, não sabendo mais quem era? Uma vez que vamos deixando de entrar em contato com nossa subjetividade e singularidade. Ou seja, perdemos aos poucos nossa identidade por aprender ao longo da vida que o corpo magro é mais bonito.
Com isso, a maneira como priorizamos nossas necessidades, por exemplo, fisiológica, psicológica e social, também se altera. Assim, estar com fome, uma necessidade fisiológica, deixa de ser algo prioritário, para ser reduzido ao quanto vou comer para ser magra. Desse modo, observamos a priorização da necessidade social de pertencimento e aceitação em relação à imposição da sociedade em ser magro.
Outra vivência é ser convidada para sair com amigos e escolher ficar em casa. Assim, optamos por ignorar a necessidade psicológica de convívio com outras pessoas para não nos sentirmos inseguras com o próprio corpo ou sermos julgadas de modo velado, através de olhares.

Isso, aos poucos, se transforma em isolamento social. Visto que impede a vivência de momentos com pessoas que gostamos ou novas experiências que podem proporcionar maneiras novas de agir, pensar e sentir.
Outro exemplo é a distorção de imagem corporal. Temos uma percepção não correspondente à realidade de quem somos, impactando na interrupção do contato com nossa imagem real, da nossa autoestima e gera uma pressão sob si mesma de modo extremo.
Essa percepção desconexa com a realidade leva ao sentimento de insuficiência em relação ao próprio corpo de que não somos magras o suficiente. Isso acarreta na magreza extrema e no desenvolvimento de transtornos alimentares ou na busca por soluções ainda mais perigosas.
É necessário ter consciência de quando e como estão presentes os sentimentos e ações de evitação citados anteriormente para compreender como pedir de ajuda.
E o que pode ajudar? Primeiro, reduzir o tempo nas redes sociais para diminuir a exposição ao culto da magreza, a fim de estar mais presente na realidade, além de buscar conteúdo que te acolha em relação ao corpo, como representatividade ou quem desconstrói esse ideal abordando sobre corpo saudável e realista. Dado que, o algoritmo favorece o que dá engajamento, o que é mais produzido e consumido, ele depende do conteúdo que curtimos.

E segundo, conversar com pessoas próximas, preferencialmente mulheres, sobre esses sentimentos, criando uma rede de apoio. E também há a possibilidade de psicoterapia para trabalhar melhor esses assuntos.
Portanto, seu corpo vai além de caber na “caixinha” do padrão de beleza magro. É fundamental compreender que seu corpo é você, composto por vivências, significados, afetos, vida, necessidades, história e não pelo que é imposto pela estrutura da nossa sociedade. Se desejar conversar mais sobre isso em um espaço acolhedor e sem julgamentos, a psicoterapia pode ser um espaço seguro, de escuta e ressignificação.
